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10 de janeiro de 2021

Emocional até o meu último fio de cabelo, sim sou sim!

10 de janeiro de 2021

Emocional até o meu último fio de cabelo, sim sou sim!

Jackeline Leal Por Jackeline Leal
@jackelineleal_
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Aqui para nós, como você lida com o fato de ser um poço de emoções e ao mesmo tempo viver em uma sociedade que prega que todos nós deveríamos ser filtros?

Os filtros que me perdoem, mas a minha verdade é que eu passei a vida toda, (ok, eu tenho 35 anos e minha vida toda pode não ser tão comprida assim), tentando fazer essa lição de casa, mas a conta não fecha.

Cheguei à singela conclusão, há alguns anos, de que viver para controlar tudo quanto é sentimento “proibido” de ser demonstrado em público era praticamente viver em um filme do Missão Impossível.

Para mim isso nunca funcionou e eu sei pela minha experiência profissional que muita gente se identifica com este meu sentimento, mas o que me assusta é que ao mesmo tempo que sabemos que as emoções existem gostando a gente ou não, tentamos “tapar o sol com a peneira” e o que mais vejo por ai, são receitas prontas de como “controlar o incontrolável”. E onde mora o problemão?

Se existe uma receita que dá certo para fazermos isso, se não funcionou com você, a sensação é de que você é o problema e não o sistema!

Mas vamos lá, será que isso é realmente verdade? De jeito nenhum. Esse sentimento de inadequação não te pertence, ele é social e utilizado dentro do capitalismo como forma de manipulação de massa. Medo, ansiedade, tristeza, dor, frustração, depressão, vendem remédios. Alimentam uma indústria de beleza inteira e ouso a dizer que não interessa ao sistema que a sua dor acabe. Gente feliz não consome tanto. Sabia?

Então, se controlar não é a resposta, como é possível lidar com tantas emoções sem perder o rumo das coisas. Sem perder o chão, a paciência e pior, a razão?

Veja bem, você já viu alguém com muita raiva? Tanta raiva que não mede as palavras? Que passa como um trator sem freio em cima de todo mundo? Pois é, essa já fui eu. Uma plantinha com emoções difíceis e isso tudo começou na minha adolescência, após algumas perdas muito dolorosas que vivi.

Desde então, eu sempre que lembro de mim, lembro de mim com raiva. Primeiro mesmo foi raiva de Deus que foi levando as pessoas que eu amava, assim sem avisar. Depois era raiva de tudo e de todos e eu não estou brincando. Era tão sério que quando eu li o livro “Um copo de cólera” achei que era sobre mim.

A raiva tomava conta de mim e nessas horas eu perdia a noção das palavras que eu dizia. Era como se eu soubesse o que se passava nas profundezas da outra pessoa e utilizasse essas palavras para machucá-las. Se você já se sentiu assim, talvez seja capaz de me compreender.

Mas a real é que eu sempre fui, ao contrário disso, uma garota doce, amorosa e muito sensível. E tudo isso parece que evocava uma outra eu, bem diferente do que eu realmente era, do que eu realmente sou.

Quando eu era tomada pela raiva, tudo em mim se misturava. Uma nuvem negra pairava sobre mim, meu corpo não estava mais sobre o meu controle. Esse recorte da minha vida e o puerpério foram as fases mais intensas no que diz respeito a não controlar emoções.

Quando eu passei a me dar conta de que eu precisava parar de controlar a minha raiva e permitir que ela invadisse o meu ser, fiquei extremamente assustada. Meu medo era aceitar que ela entrasse e, depois disso, não conseguir nunca mais que ela fosse embora. Tinha medo, na verdade, de me tornar uma pessoa seca, amarga, grosseira, como muitas pessoas que eu já julguei por ai.

Tudo começou a mudar quando eu me dei conta do chamado por trás da raiva. Quando me dei conta de que ela falava mais sobre mim do que os meus momentos felizes. Dei-me conta de que a minha raiva era a minha sanidade pedindo espaço, então dei-me conta de que ela era a minha espontaneidade, a minha autenticidade pedindo para ser ouvida.

A raiva veio me contar sobre dores não superadas do meu passado. Ela veio me contar que o personagem que eu estava vestindo, aquele de mulher durona e independente que não precisava de ninguém, impedia-me de voar mais longe. O dia em que isso fez sentido na minha cabeça, foi como se nuvens negras saíssem do céu, ou ainda, várias fichas caindo sobre a minha cabeça simultaneamente, em um processo repetitivo, sem fim. Magicamente, no dia em que tudo isso fez sentido, a raiva, aquela que eu dei o nome de ira, passou.

Gozado isso, não é mesmo? Eu tinha vergonha de sentir tanto, a verdade é que eu ouvi a vida toda que esse meu “tanto” era “muito”. No gesto mais carinhoso era vista como frágil, sentimental e nos que mais me tolhiam eu era manteiga derretida e dramática e quanto mais eu tentava suprimir o que eu sentia, mais eu transbordava em lágrimas, mais dramática eu parecia.

Esconder a minha raiva foi fingir que eu não tinha dentro de mim a escuridão. Foi como se eu escondesse a sombra e junto com ela eu perdesse a luz. Eu rejeitava parte de mim ao fazer o que era “certo”. Ninguém esconde por completo uma sombra e a parte feia costuma sobrar para os mais fracos, neste caso, as pessoas que estão mais próximas da gente, geralmente amigos íntimos e família.

Hoje consigo olhar para a minha história sem me punir ou ainda sem sentir pena de mim, culpa ou vergonha, mas já senti e isso me consumiu por muito tempo.

Eu aprendi a me olhar de um lugar bonito onde não existem julgamentos, apenas amor e autocompaixão. Esse lugar se abriu para mim, quando eu aceitei que as minhas emoções eram parte de mim que aprendi a me amar plenamente.

E foi me amando plenamente que eu aprendi a amar o outro nas imperfeições dele também. E nesse fluxo, eu entendi que cuidar da raiva era cuidar dos sinais que meu corpo me enviava e que por trás dela estão necessidades não atendidas. Coisas que eu julgo serem importantes para uma vida gostosa e que por algum motivo naquele momento foram abandonadas, esquecidas, sabotadas, por ninguém mais, ninguém menos que eu mesma.

É cuidando dessas necessidades, é olhando para dentro de mim, é buscando entender mais do que é preciso que eu tenha nas relações (pessoais e profissionais) que eu escuto a raiva e a acolho. Ela nunca deixou de existir e nunca deixará, e tá tudo bem; agora está.

Sentimentos não são bons ou ruins, apenas são. Aprendi assim, que sentir não arranca pedaço, não machuca ninguém, mas frear e controlar sentimento sim. Machuca, fere, destrói sonhos e autoestima, fragiliza e nos impede de ser quem somos.

Aceitar as minhas emoções como mensageiras dos meus desejos e das minhas necessidades, despertaram-me para a vida e hoje não existe sentimento em mim que seja banido, sem antes ser convidado para entrar, sentar, tomar um café e me ajudar a aprender um pouco mais sobre mim mesma.

Jackeline Leal Jackeline Leal
@jackelineleal_
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